Estou debaixo das cobertas tentando criar o meu mundo, mas só consigo me sentir no nosso, e você não está nele. Aqui debaixo esperando que quando eu o tirar da cabeça eu acorde do pesadelo e que tudo esteja normal, como antes.
Pra não perder a viagem, fiquei vagando nele por muito tempo, como uma alma que não consegue permissão para descansar em paz. Acabei me deparando com lugares e lembranças que estava evitando a muito tempo. Que vitória não ter chorado até então, mas o mundo é meu hoje, e vou me permitir sentir. Via um filme de tudo, sendo telespectadora de uma cena em que eu mesma fui a atriz principal. Entre tantas histórias passando, um me fez parar; alguém reclamando de quando ela comia cebola, mas não 'resestia' ao seu beijo mesmo assim, uma louca correndo nua na grama enquanto chovia, e ele olhava encantado achando aquilo a coisa mais pura do mundo, com um sorrisinho no canto do rosto, e ela o abraçava não sem antes acontecer uma pequena luta física, e depois tinham que lutar para pararem de se abraçar. Eles programavam milhares de coisas para no fim ficarem assistindo algo, ou tentando, tudo sempre acabava em... e ao fim de tudo o que ela mais gostava era admirar coisas incomuns; o nariz torto, a pintinha perto da boca que ela sempre dizia ser sua, a boca avermelhada, a respiração ofegante, as costas arranhadas. Ele abria os olhos e ela estava olhando, ele sorria, 'oi', e logo ela sentia suas mãos quentes em suas costas, e a cada centímetro do seu corpo que encostava no dele, era um pequeno choque elétrico, ela se olhava no espelho e se sentia tão bonita... Cada 'upa' no final de cada briga, cada manha, cada manhã, cada madrugada, ela na sacada esperando com o coração descompassado, como se tudo que fosse acontecer depois fosse inesperado e inédito, mesmo sendo um filme que ela sabia do início ou fim, de cor, era como se fosse sempre a primeira vez que ela o assistia. O primeiro cheiro do sábado, a primeira peça de roupa tirada, a cada música cantada ou pé do ouvido. Cartas indecifráveis, sem palavras complexas e com vários erros de ortografia, mas para ela eram as frases mais lindas que ela já tinha lido em toda sua vida, e olha que ela já tinha lido muitas coisas. A toalha no chão, as estrelas no céu, eles no meio. Nem viram o zepellin que passou, só escutaram o zeppelin que tocou, pois estavam de olhos fechados. Os programas de índio em meio ao ócio, ela sempre o puxava para longe da cidade, e qualquer pedaço de cerrado já era suficiente, e mesmo cansado ele a mimava. A história começou a ficar entediante. Fiquei retornando o filme apenas nas partes interessantes mas uma hora isso não satisfaz mais, queria cenas novas, mas os atores estavam cansados e não havia mais sintonia. Decidi pausar o filme, procurar outro mais animado, chega de romances. Volta e meia eu volto para assistir as melhores partes, mas isso não me satisfaz. Me dói quando filmes bons terminam, sem contar aquele sentimento de querer aquela história pra nossa vida, quem nunca quis um romance de cinema?
Ah, sim, aquele roteiro é meu.
Tenho muitos escritos aqui, e ainda escrevo vários, o ator disse que poderíamos gravar uma continuação, mas acredito que o preço que ele vai em cobrar vai ser alto. Enquanto isso eu fico aqui reprisando num ciclo sem fim, já que não posso gravar um filme novo, me contento assistindo, assistindo, revendo, relembrando o antigo.
aposto que ele ama vc mais que tudo :]
ResponderExcluirAposta ganha.
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